terça-feira, agosto 29, 2006

Texto para os Fala Quem Sabe!

Entreguei um texto de minha autoria aos Fala Quem Sabe. Escrever não é difícil, mas ter piada é bem mais complicado. Gostaram e o programa saiu em finais do mês de Julho, julgo. Lê-lo não é a mesma coisa que ver o programa com eles três. Um texto, por melhor que seja, necessita sempre do cunho dos actores. E isso, eles sabem fazer muito bem!
Aqui fica o meu texto que deu origem a um dos programas de Fala Quem Sabe, obviamente com muitos erros ortográficos para dar aquele ênfase...

O mundo é redondo?!
Texto – Miguel Linhares

Ramiro vai passeando pelo quintal, a contemplar a beleza da primavera, as árvores, os passarinhos, com um ar sorridente. De repente vai ficando cada vez mais intrigado, coçando a cabeça, acabando por ficar muito pensativo, enquanto continua a passear. Nesse entretanto aparecem o Batista e o Agostinho.

Agostinho (sorridente) – Hóme, o Sr. dá licença á gente?!!!
Ramiro – Vocês hoje estão muito simpáticos, porque será…?
Batista – Então Ramiro, e que tal? Não há nada para fazer? Aperta contigo, tens aí muita terra para cavar!
Ramiro – Home eu já tive ali a abrir uns regos, mas fiquei muito cansado, estou aqui a descansar um bocadinho, a apreciar a natureza.
Agostinho – Ei Ramiro, a natureza no teu quintal é sempre a mesma, não há nada de novo, eu está-me a parecer é que andas a ficar meio malandro…
Batista – É. Quem abre meia dúzia de regos e fica cansado ou é porque nunca pegou numa enxada ou então é mesmo malandro… e cheira-me que o teu mal é esse mesmo…malandrice.
Ramiro – Home vocês não me chateiem, eu depois quando tiver as novidades na terra, vocês não venham cá de cestinha porque não vão levar nada!!!
Batista – Pois, eu mesmo não estou a pensar em mais nada, estou só á espera que a tua terra dê alguma coisa…morria de fome… (risos)
Agostinho (risos, virado para o Batista) – Havia de ser lindo… além dele não fazer muito, ainda por cima esta terra aqui não dá nada… é muito barrenta.
Batista – É barrenta lá nada, tu és é tolo. Esta terra aqui no meu quintal é a melhor que encontras aqui na freguesia!!!
Agostinho – Pois é…para fazer alguidares… (Batista e Agostinho riem)
Ramiro – Engraçadinhos…

Pequena pausa…Ramiro fica outra vez meio intrigado e pensativo…

Batista – Ei Ramiro, estás a pensar na morte da bezerra?! Já quando a gente chegou estavas assim meio pensativo… que é que se passa, a “mulhé” anda a tirar-te o juízo?
Ramiro – Home, não é nada disso, eu estava aqui a pensar… o que será que existe debaixo da terra?!
Agostinho – Debaixo da terra…home existe terra e pedras…
Ramiro – Tá certo, mas e mais, será que existe túneis e grutas? (pausa, os outros ficam espantados a olhar para ele) Será que vivem pessoas em outros lugares debaixo da terra?
Batista – Já cá faltava a asneira, estava a ver que não Ramiro. Ó Ramiro não vive ninguém debaixo da terra!!!
Agostinho – Debaixo da terra, que eu saiba, é só mortos.
Ramiro – Home, nunca ouviste dizer: ”não caves tanto fundo que ainda vais parar á China!”, vocês nunca ouviram isso?
Batista – Epá isso é uma maneira de falar, uma expressão que se diz na brincadeira. É impossível tu ires parar á China, por mais que caves! O planeta é redondo, mas é muito grande, para ires para a China tem que ser por cima da terra…e não deve ser nada barato…
Agostinho – Quer dizer, se é redondo eu não sei, desconfio um bocadinho disso…
Batista – Ai sim, então porquê? Nunca viste os cientistas a falar na talavisão? Eles dizem que é redondo.
Ramiro – Uei home, redondo?!!! Se fosse redondo, como é que a gente se aguentava em pé? As pessoas caíam!
Batista – Epá, dá-me impressão que eu estou no meio de dois burros. A terra é redonda e a gente não cai porque, prontes (atrapalhado) …a terra tem uma força…uma força que aguenta a gente presos ao chão…tipo…tipo um íman…
Agostinho – É a força da gravidade!
Batista – Isso mesmo…epá, ó Agostinho, tas a ficar espertinho!!! Deixaste a bubida?
Agostinho (a gozar) – Foi… só não sei aonde…
Ramiro – Força da gravidade?!!! Gravidade de quê? A gravidade da pancada no chão quando a gente cai?
Batista – Ó “serve de Dês”, não. A força da gravidade é o nome que se dá á tal força que te falei que aguenta a gente presos ao chão.

Pequena pausa…

Agostinho – Mas mesmo assim, não sei se será mesmo redonda… vocês nunca andaram de avião? O avião vai é sempre para cima e para a frente, não anda á volta de nada… (gesticular)
Ramiro – É verdade! Eu uma vez fui visitar uma tia minha e a gente foi lá onde ela mora, na América de cima, e aquilo o avião estava era sempre a subir e andar para a frente…a gente primeiro parou num aeroporto que fica na América de baixo, a modes que lá também mora muitos açorianos…
Agostinho – Maxaxuxa…
Ramiro – Isse!
Batista – É, a minha irmã mora lá, costuma mandar umas dólas…
Ramiro – Prontos, e depois é que o avião foi pá América de cima, ou seja, primeiro pára em baixo e depois sobe ainda mais para ir para a América de cima, por isso a terra não é bem redonda, é mais é a subir…tipo montanha.
Batista – Home vocês não digam mais asneiras, pelas vossas saudinhas! Essa coisa da América de cima e América de baixo é um termo que os emigrantes arranjaram, mas na realidade não é assim. O que chamam de América de baixo é onde fica…como é Agostinho?
Agostinho – Maxaxuxa!!!
Batista – Isse! Que é uma zona que fica na parte norte do país e o que chamam de América de cima, é onde fica…como é que se chama o lugar onde foste?
Ramiro – Uhhhhh…era… chamava-se Califôna!
Batista – Isso mesmo! Califôna, que é uma zona que fica na parte sul do país. Portantos vocês estão a dizer asneira da grossa.

Pequena pausa, Ramiro coça a cabeça confuso, Agostinho olha meio desconfiado e Batista olha para eles convencido que está certo.


Ramiro – Home, eu não sei…mas existe uma coisa que ainda me faz mais confusão…
Batista – Só uma…que é?
Ramiro (com medo de dizer mais uma asneira…) – Home… a gente quando anda de carro á noite, porque é que a lua vem sempre atrás da gente?!!!
Batista – Uei Ramiro! BOA NOITE!!!

Batista vai-se embora chateado, Ramiro fica a resmungar, Agostinho fica meio pensativo…e resmunga “Tá bem pensado Ramiro…”

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