quinta-feira, julho 27, 2006

“Belos” areais mas com aproveitamento “nulo”

Texto - Miguel Linhares

O concelho da Ribeira Grande tem extensos areais, mas o seu aproveitamento é quase nulo. A única zona balnear galardoada com bandeira azul são as piscinas das Calhetas.

Desde a inauguração, no ano passado, das piscinas municipais das Poças, estas passaram a ser o principal ponto de paragem na Ribeira Grande para as práticas veraneias. O concelho está presenteado com extensos areais, mas o seu aproveitamento é quase nulo. A única zona balnear na Ribeira Grande galardoada com bandeira azul é o lugar das piscinas naturais das Calhetas, embora esta seja frequentada, maioritariamente, pelos locais, pessoas das freguesias limítrofes e alguns turistas que por lá vão passando. Com muita pouca - ou quase nenhuma - areia, esta zona balnear prima pela limpeza tanto em terra, como na água, embora esteticamente o espaço pudesse estar mais cuidado. As infra-estruturas de apoio aos banhistas já não são novas, mas estão em boas condições e nota-se um cuidado pelo espaço. Mais obras estão a ser programadas de modo a beneficiar os seus frequentadores, como afirmou ao JA José Duarte, o presidente da junta de freguesia de Calhetas: "Já melhorámos muito isto e ainda vamos cimentar a zona toda de cima, deixando só, junto à água, a areia grossa.". Na altura da nossa visita notava-se alguma sujidade na água, pelo que o nadador-salvador, Luís Mendonça, prontificou-se a esclarecer: "Isto não é muito normal, a água costuma estar limpa, mas tem dias que aparece este tipo de sujidade aqui…". José Duarte complementa: "O que se passa é que esta sujidade não é nossa, não vem aqui da freguesia. Quando o vento está ali do lado dos Fenais da Luz, esta sujidade vem cá parar, já tentámos resolver isto mas não está fácil.". E continua: "Há lá uma zona em que deitam lixo sem qualquer tipo de controle, até foi lá construído um muro a limitar o acesso à zona, mas já o deitaram a baixo e continuam a colocar lixo na zona e quando o vento vem dali, isto fica assim…". Outra situação caricata que foi registada no local foi a presença de um grupo de pessoas que estavam a fazer um churrasco, com uma pequena fogueira, num piquenique. Numa zona de bandeira azul isto é, no mínimo, estranho, mas o presidente da junta tem novamente uma explicação: "Aqueles senhores têm por hábito fazer aquilo, já os avisámos mas eles continuam a fazer. Já foram alertados, se aparecer a Polícia Marítima vai ser pior, mas eu já esta semana vou resolver isto. Vou enviar um ofício à câmara municipal a explicar a situação para eles tomarem medidas.". Ainda há pouco tempo havia na zona balnear umas churrasqueiras, o que explica que as pessoas ainda possam ter por hábito fazer fogueiras na zona, mas como José Duarte revela "a Delegação de Saúde mandou-nos tirar as churrasqueiras da zona". Aparentemente, quem vinha a sair da zona dos duches era "imediatamente perturbada com o fumo", o que por si só, já não era higiénico e aconselhável numa zona balnear. Também, à primeira vista, era passível de se pensar que o local era alvo de campismo selvagem, por estar uma tenda montada, mas isso foi desmistificado, em uníssono, pelo presidente da junta e por Luís Mendonça, o nadador-salvador: "Já falamos com a senhora, a tenda está só a servir de "abrigo" à sua criança, daqui a pouco já está desmontada…". Luís Mendonça afirma que tem sido uma época balnear muito calma, sem problemas de maior, embora, por vezes, aconteçam pequenos incidentes de desobediência. "Existe aqui um ou dois grupos de rapazes que não se lhes pode dizer nada, são muito rebeldes", explica. Enquanto o nadador-salvador nos passa essa informação, um desses grupos já vai longe da costa numa bóia preta em passeio despreocupado, mas que pode tornar-se perigoso. "Não posso fazer mais nada, se a Polícia Marítima aparecer por cá, isto resolve-se! Eles são sempre bem avisados dos perigos.". Nota-se que existe um esforço em melhorar todo o espaço, por parte do presidente da junta o que é complementado pelo empenho do nadador-salvador, mas ainda haverá muito para fazer pelo melhoramento do espaço. Ainda assim, a bandeira azul lá está, a única na Ribeira Grande e José Duarte, orgulhosamente, ainda deixa uma nota final: "Já cá vieram fazer as análises à água por três vezes e de todas a qualidade era excelente!". Já na freguesia da Ribeira Seca e bem próximo da cidade da Ribeira Grande, podemos encontrar o extenso areal de Stª Bárbara. O espaçoso - e mais ou menos ordenado - parque de estacionamento, não se coaduna com o acesso ao areal que deixa bem à mostra uma vasta poluição e desleixo estético. Um pouco de tudo pode ser encontrado em alguns calhaus junto ao caminho e ao chegar ao areal a imagem não é muito mais colorida! Só por isto, já se pode explicar porque a bandeira azul não figura nesta praia, embora seja muito bem frequentada e tenha nadador-salvador. Paula Rita é uma banhista habitual desta praia e diz que "é normal toda esta sujidade, tanto na areia como na água." O que também ressalta à vista, ao chegar-se ao areal, é a pequena falésia do lado oposto do mar que, para além de não ter ar de muito seguro, possui no topo um muro de pedra em muitos dos seus pontos desmoronado. Paula Rita esclarece: "Realmente isto não é muito seguro, mas também não ouço muitas críticas em relação a isso", opinião consonante com a de outra banhista habitual: "Realmente não se sente muita segurança aqui, deviam arranjar isto para as pessoas ficarem mais descansadas, isto é mesmo junto ao areal.". E vai mais longe e deixa um desejo: "Isto aqui está sempre muito sujo, na água, embora a areia nem tanto. O que eu acho é que deviam explorar a praia do Monte Verde, em vez desta!". O que é certo é que a longa extensão desta praia, dá uma ideia de subaproveitamento da mesma, pois qualidades parecem não faltar, higiene e alguma segurança sim! Talvez a sensibilização perante a população fosse um primeiro ponto a ter em conta. Sobre isso mesmo falam-nos outros banhistas habituais do areal de Stª Barbara: "Costuma estar um pouco poluído, mas o que mais vejo são pessoas a deixarem lixo na areia". Também nestes casos a pequena falésia não deixa margem para dúvidas: " Não nos dá segurança nenhuma e nunca coloco a toalha muito junto. Nunca vi cair pedras, mas pode acontecer e além disso cai muita terra". Para além de opiniões pessoais, estes banhistas já ouviram as mesmas críticas por parte de outros frequentadores desta praia. Uma outra banhista acrescenta outro ponto, que considera mesmo "estúpido", que é o facto de "só haver um nadador-salvador numa praia tão grande, ainda por cima na zona da praia onde vai menos gente, pois é no lado oposto ao da entrada que existe mais espaço e para onde vai quase toda a gente.". Deveria, então, o nadador-salvador estar colocado mais ao centro da praia para ter uma abrangência maior? Esta banhista acha que não: "Em último caso, sim, deveria ser assim, mas para haver segurança era preciso colocarem mais um ou dois nadadores-salvadores, pois esta praia é muito extensa!".De notar, ainda, a inexistência de infra-estruturas de apoio aos banhistas, havendo somente, à entrada da praia, uns pequenos duches a céu aberto. Para além destes, um quiosque de venda de gelados, que no momento da nossa visita estava fechado. Pelo grande número de pessoas que acorrem a este areal talvez fosse conveniente pensar um novo modelo para a próxima época balnear, que ofereça segurança e qualidade aos banhistas. Agradeceriam, com certeza!Mesmo ao lado do areal de Stª Barbara e com vista para as piscinas municipais das Poças, está a praia do Monte Verde. Pouco há a dizer sobre este areal que não possui bandeira azul, nem tão-pouco vigilância. Apesar da sua localização privilegiada e de uma razoável extensão, o abandono é completo e a limpeza não figura neste espaço. A ribeira desagua nesta praia, embora este não seja um inconveniente. Mais preocupantes serão as casas que têm como quintal…a areia. O quadro é pintado de algum lixo e despojos, não beneficiando em nada a areia e o mar.Toda a envolvente é descuidada, embora mesmo ali ao lado e a poucos metros estejam as muito frequentadas piscinas municipais, miradouros e espaços de lazer aprazíveis, espaços comerciais …mas com um borrão na pintura, a praia de Monte Verde...

in "Jornal dos Açores", 26 de Julho de 2006

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