sexta-feira, julho 21, 2006

Era uma vez as duas zonas balneares mais próximas de Ponta Delgada

Texto - Miguel Linhares / Foto - Jornal dos Açores

Praias do Pópulo e Milícias. Há uma visível preocupação da Câmara em manter as praias limpas. Qualquer cenário de lixo é imediatamente eliminado. Os banhistas mostram-se satisfeitos.

Da “excelência” da praia pequena do Pópulo aos problemas com esgotos da praia das Milícias vai um percurso de grande esforço para manter as duas zonas balneares limpas e bem frequentadas, isto num ano em que os banhistas pagam multa por nadar com bandeira vermelha e o sol veio para queimar mais do que o habitual. A verdade é que, chegada que está, em força, a época balnear em todo o território nacional, resta aos banhistas escolherem o lugar de eleição para as actividades veraneias possibilitadas no mar, uns por puro prazer, outros por hábito levado a cabo todo o ano, outros para a prática de diversos desportos ou entretenimentos e outros ainda por simples impulso imposto pelo sol e pelo calor desta altura do ano. Para além dos mais que publicitados cuidados a ter com o sol e os possíveis malefícios que este pode causar por longas horas de exposição e em certas alturas do dia, há que ter em conta outros factores que podem ser determinantes para o bem estar daqueles que pretendem passar um dia agradável no mar.

Atracção
Uma equipa de reportagem do JA vai estar por todas as zonas balneares de São Miguel.Não só é importante saber a qualidade da água da praia que se vai frequentar, mas também que tipo de infra-estruturas que possui, se tem vigilância ou não e se a envolvente é limpa e atractiva. No concelho de Ponta Delgada existem duas praias que acabam por ser também as zonas balneares mais próximas do centro da cidade mais populosa do arquipélago, Milícias e Pópulo, as duas galardoadas com bandeira azul.A bandeira azul não é mais que um símbolo de qualidade atribuído às zonas balneares que reúnem um conjunto de regras de qualidade com nota positiva. Atribuída desde 1987, o progresso das praias e portos de recreio portugueses tem vindo a ser notório, se bem que, por vezes, discutível. Os critérios são tidos em conta pelo Júri Nacional da Bandeira Azul para as praias, que é constituído por um conjunto de 21 entidades da Administração Pública, Central e Regional, bem como organizações não governamentais, sendo coordenado pela Associação Bandeira Azul da Europa. As candidaturas das praias são apresentadas anualmente pelos municípios às direcções regionais do Ambiente, subscritas por mais do que uma entidade de âmbito local e regional. Depois de uma primeira fase de avaliação a que são submetidas, as candidaturas são remetidas ao Operador Nacional e o Júri Nacional da Bandeira Azul para as praias, como Júri Nacional, aprecia e aprova a lista de praias a submeter ao Júri Internacional, constituído por elementos da FEE ( Foundation for Environmental Education) e de um representante da Comissão Europeia, que decide quais as praias e marinas que deverão ser galardoadas. As regras a ter em conta dividem-se em quatro pontos nucleares (que estão subdivididos em 23 critérios a cumprir); qualidade da água, informação e educação ambiental, gestão ambiental e equipamentos e segurança e serviços.

Pópulo "excelente"
A praia do Pópulo, no Livramento, é relativamente pequena e, por isso, é a menos utilizada pelos banhistas na cidade de Ponta Delgada. Dotada de excelentes infra-estruturas, esta praia está preparada para todo o ano balnear receber os veraneantes nas melhores condições. Está presenteada com bons acessos, apesar de um parque de estacionamento relativamente pequeno, como nos confirma um habitual frequentador: " Gosto muito de cá vir, porque tem sempre menos pessoas e menos barulho que a das Milícias. Parece-me, também, que a água aqui é um pouco mais limpa, mas poderá ser só uma impressão minha. A única pena que tenho é o parque de estacionamento não ser maior, pois isto fica num instante cheio. Se chegar cá pelas 14h00, já é difícil arranjar espaço para estacionar e, por vezes, tenho que o fazer lá em cima na estrada, ou no parque do outro lado.". Ainda assim, este não é um factor por si só forte para que as pessoas deixem de frequentar a praia que preenche todos os requisitos necessários para o hastear da bandeira azul, que, orgulhosamente, lá está. Outro frequentador habitual da praia do Pópulo deixou a sua impressão, relativamente à limpeza e segurança na praia: " Não tenho nada a apontar, não me lembro de ver a água suja, a não ser às vezes no Inverno. Com as tempestades, acabam sempre por dar algumas porcarias à costa, mas, de resto, está sempre impecável. Para além disso, vejo sempre aqui os nadadores salvadores atentos ao que se passa e isso dá-nos segurança…".

Milícias: "tudo limpinho"?
Poucos metros antes da praia do Pópulo, e ainda em S. Roque, está a praia das Milícias, esta massivamente frequentada, até por ter uma dimensão considerável. Toda a envolvente da praia é muito agradável, cuidada e de excelentes acessos, complementado por excelentes infra-estruturas de apoio. Para quem entra pelo lado poente da praia poder-se-á deparar com maiores dificuldades de estacionamento, mas que nunca chegam a ser preocupantes, como nos revela um morador da zona: "Por vezes nem é o facto de não haver espaço, mas sim o entrar e sair de carros dificultado pelo reduzido espaço de manobra dentro do parque. Se desenhassem melhor este parque e tirassem este muro que o divide em dois, ficava mais bonito e mais prático…". Quem olha para o areal e para a água, fica com a certeza que a bandeira azul está bem atribuída, mas quem está aqui todos os dias, por vezes, tem uma ideia diferente: "Agora, durante o Verão, não me lembro de ver isto sujo, mas, no Inverno passado o mar destruiu um paredão e, consequentemente, arrebentou com um tubo de esgoto, pelo que isto ficou um pouco sujo". "Mas, durante o mês de Junho, o esgoto foi arranjado e não tenho reparado em mais nada e também não ouço muitas críticas dos clientes", revela-nos um empregado de uma das superfícies comerciais da zona. Outras duas pessoas que trabalham na zona da praia, dizem que isso deverá ter sido um caso pontual, pois "não nos lembramos de ver isto aqui sujo. Está sempre tudo limpinho!".Mas aqui as opiniões tendem a divergir, pois, se uns defendem a praia como sendo uma das mais limpas, outros lembram-se de momentos em que a água não convidava a entrar: " Já cheguei a vir cá e a água estar meia suja e com muita espuma… pior ainda, de uma das vezes que cá vim, estava a entrar no areal e reparei, a tempo, numa garrafa de cerveja partida, meia soterrada na areia. Isto não é muito agradável para quem vem cá com a família". Para aqueles que frequentam a praia durante todo o ano, a opinião também diverge. Os praticantes de desportos náuticos, como o surf, correm as praias da ilha durante todo o ano e têm uma visão mais abrangente da qualidade das águas e dos areais. Uma dessas pessoas não concorda com as afirmações que garantem alguma poluição na praia das Milícias: " Eu venho cá muitas vezes, durante todo o ano, e não me lembro de ver nada disso. Não me ocorre nenhuma situação em que a água estivesse poluída ou algo do género…".

Sucção de esgoto
Estas opiniões divergentes podem levar a crer que poderão ter ocorrido casos pontuais, em algumas alturas do ano, como aquando do arrebentamento do paredão e do tubo de esgoto durante o Inverno passado, devido ao mau tempo.Um outro dos frequentadores de todo o ano vai mais longe e ainda aponta o dedo noutra direcção: "A água não me lembro de a ver suja, mas, como venho cá todo o ano e quase todos os dias, sei que durante o Inverno passado, quase todos os dias de manhã vinha cá uma carrinha, que julgo ser da Câmara Municipal, fazer a sucção através de uma tampa de esgoto que está no parque de estacionamento em frente à torre. Para além de muito barulho, isto ficava todos os dias com um cheiro horrível na praia e nos arredores". Mas então porquê essa prática quase diária? "Como disse, venho quase todos os dias à praia e tenho um colega meu que mora na torre em frente à praia e o que ele me disse é que existe algum problema na escoação dos resíduos nas tubagens dos esgotos naquela zona e por isso vinham cá com aquela carrinha fazer a sucção, talvez para manter a tubagem e as caixas dos esgotos mais desimpedidas. Não sei se será isso, ao certo, mas que vinham cá quase todos os dias, vinham. E o cheiro era nauseabundo, não se podia estar aqui", lamenta. Pelo menos durante este Verão, tal situação parece ainda não ter ocorrido, o que seria, no mínimo, preocupante devido ao grande número de pessoas que diariamente ocorrem à praia das Milícias.
Full Power: poluição
Este fim-de-semana vai realizar-se na praia o III Festival Full Power, um mega evento de música de dança que vai atrair ao espaço milhares de jovens. "O problema é esse, no outro dia de manhã quando cá viermos para relaxar e nadar um pouco vamos encontrar isto tudo poluído, cheio de garrafas e sabe-se lá mais o quê! Não sou contra estes eventos para a juventude, mas que isso vai poluir a zona durante estes dias, isso vai.", alerta um banhista. Mesmo assim, é reconhecida a importância deste tipo de eventos para o engrandecimento da cidade, até mesmo perante os turistas mais jovens, que procuram este tipo de iniciativas.Cabe aos frequentadores destes espaços balneares, como as praias do Pópulo e das Milícias, a conservação do areal, da água e do espaço envolvente, não só durante o Verão, mas durante todo o ano, para que a qualidade seja garantida e a bandeira azul lá no alto venha oferecer aos banhistas as garantias necessárias a um bom dia passado na praia. Isso implica uma consciencialização redobrada perante o nosso ambiente e o nosso bem-estar que deve ser alimentada veemente, não havendo desculpas aceitáveis em pleno século XXI à indiferença e irresponsabilidade.

Pontas de cigarro
E isso, por vezes, começa nos pequenos pormenores que fazem as grandes diferenças, como são exemplos os sacos de plástico, as embalagens dos gelados e outros recipientes que os banhistas deixam na areia apesar dos recipientes para o lixo estarem a alguns metros.Há uma notória falta de civismo por parte de alguns banhistas que, não respeitando o próximo, fazem do espaço da praia que ocupam por algumas horas a sua casa.Opina um banhista da praia do Pópulo: "O que mais me irrita são as pessoas que fumam nas praias e depois enterram as beatas na areia. Não há desculpa para isso, eu sou fumador e não faço isso, vou ao bar, ou então certifico-me que está bem apagado e coloco-o no lixo. Mas enterrar beatas na areia?! Não é agradável para quem anda a passear e as vai encontrando com os pés, ou com as mãos ao colocar a toalha. E será que as pessoas têm ideia de quantos anos leva um cigarro a decompor-se?!". Fomos procurar a resposta que é nada menos do que dois anos…

in "Jornal dos Açores", 21 de Julho de 2006

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