sexta-feira, julho 21, 2006

Pitbull não tem vocação violenta nem de guarda - Raças cruzadas e mal ensinadas é que dão problemas

Texto - Miguel Linhares / Fotos - Nuno Cabral e Bruno Moniz

São notícias atrás de notícias sobre ataques agressivos de cães da raça Pitbull. Quem dá sempre a cara são as vítimas, a culpa é sempre do cão, o dono é sempre irresponsável. Até aqui temos uma meia verdade.
Nos Açores existem ainda poucos criadores de Pitbulls, mas é crescente o número dos que optam por estes cães. Porém, a maior parte, não deve ser de raça pura. E é aqui que reside o problema.
Uma das teorias, sobre o aparecimento desta raça, aponta para o cruzamento de Bulldog com English White Terrier, no século XIX, emInglaterra, numa altura em que as lutas de cães eram um desporto muito popular.
Entretanto, chegou-se à conclusão de que o Bulldog era muito lento, e por isso tentou-se criar uma raça mais rápida, resistente, mais poderosa e eficaz na luta, embora a verdadeira origem do Pitbull ainda levante muitas dúvidas. Esta teoria é de John P. Colby, uma das primeiras pessoas a levar a raça para os EUA e a registá-la.
Dois séculos passados destes primeiros estudos, o facto é que os pitbulls estão em todo o mundo, inclusive nos Açores.
Honório Aguiar, um apaixonado por estes animais, já chegou mesmo a ter um Pitbull. Grande defensor e profundo conhecedor da raça supõe, em declarações ao JA que nos Açores, “só em S. Miguel deverá haver um número considerável de Pitbulls. Como cá chegou? Pelo que sei, foi um senhor que vivia nos EUA e que trouxe um casal para cá e fez criação. Claro que poderá ter chegado de outras formas e por outras pessoas, mas não tenho conhecimento”.
De acordo com Honório Aguiar é muito difícil saber quantos cães existem na Região, “até porque ninguém tem os seus cães registados. As únicas associações de registo de Pitbull são as americanas (American Dog Breeters e United Kennel Club) e em Portugal nem existe sequer uma legislação específica para o Pitbull, mas sim para cães de raças potencialmente perigosas, onde o Pitbull figura”.

Maus cruzamentos geram cães agressivos e perigosos
A raça ganhou fama, nem sempre pelas melhores razões e foi criada, no caso específico de São Miguel, também, nem sempre, pelas pessoas mais adequadas: "muitos dos proprietários não conhecem minimamente a raça, não têm os devidos cuidados com ela e, muitas vezes, criam os cães com a intenção de criarem bichos agressivos. Aqui reside o principal erro. Além disso, por vezes com esse tipo de ensinamento a cães que nem são puros (são traçados com outras raças), aí sim, está a criar-se um cão agressivo e perigoso".

Boxer “é mais agressivo”
Bruno Moniz tem um Pitbull e um Boxer e afirma, desde logo, que "o Boxer é um cão muito mais agressivo que o Pitbull. Não posso deixar o meu boxer à solta perto de pessoas, pois ele ataca, já o Pitbull não!”.
Segundo Bruno Moniz, “o estigma da perigosidade desta raça, tem origem em boatos e informações erradas”, e argumenta, no entanto, que “o único senão dos Pitbull é que não toleram outros cães, a não ser que sejam habituados a isso”. O seu Pitbull, “convive bem com o Boxer e nunca houve problemas”.
Mas do que não se pode fugir é das inúmeras notícias de ataques de Pitbulls quer a adultos, quer a crianças, em todo o mundo. Como se explica, então, a “docilidade” deste animal? Também Bruno Moniz é de opinião de que muitos cães resultarem de “sangue cruzado”. “A aparência é a de um Pitbull, mas na realidade são cães cruzados com outras raças e esses, sim, podem facilmente ser agressivos”.
Honório complementa: " O problema é que muitas pessoas querem fazer as suas próprias criações sem qualquer tipo de critério e cuidado e isso leva a que nasçam cães com temperamentos cada vez mais distantes do temperamento original da raça”. Ainda segundo Honório Aguiar, as notícias que revelam o Pitbull como agressivo, leva a que pessoas, à procura de um cão para defesa ou guarda, adquiram Pitbulls e os eduquem com esse propósito. “Mas depois a maior parte das pessoas é irresponsável, deixa o cão sem trela, ou com fácil acesso à rua, o que torna fácil os casos de ataques”.
Honório Aguiar recorda que “muitos outros cães,até de pequeno porte, atacam pessoas , mas isso não é tão notícia como um ataque de um Pitbull”. Isso percebe-se facilmente pelo facto de um ataque de Pitbull deixar “estragos muito visíveis, o que é mais mediático”.

Há mais perigosos que o Pitbull
Existem muitos estudos sobre a perigosidade das diversas raças de cães, explica Honório Aguiar : “Na Alemanha fez-se um estudo sobre a agressividade nos cães e o Pitbull foi um dos cães mais bem cotados, pela positiva”. Surpreendeu Honório o facto de certas raças “que até são muito publicitadas como amigas das pessoas terem uma maior probabilidade de agressividade do que o Pitbull”. É o caso do Dálmata.
Bruno Moniz ainda sublinha que quando um Pitbull ataca , é um comportamento “fora do padrão da raça, já que alguns até são ensinados a atacar pessoas e nunca o fazem".
Certo é que a raça foi criada com o único propósito de lutar.
Reforçando a ideia de que o genuino Pitbull não é agressivo Honório Aguiar declara mesmo: "Quer se goste ou não, este é um cão de lutas e quando elas eram legais tinham uma série de regras. Não era só atirar dois cães para o centro e vê-los matarem-se. Essas lutas eram regidas por duas pessoas que, quando necessário,separavam os cães. Portanto eles não podiam ser agressivos com pessoas. Foram ensinados a atacar somente outros cães". Bruno Moniz garante que não tem o mínimo problema em deixar o seu cão em contacto com pessoas estranhas, e quando o leva à rua é com segurança, “porque se ele vir outros cães, aí sim, torna-se agressivo e vai querer atacá-los... Já o meu Boxer…”.

Pitbull são dóceis
A docilidade e o bom companheirismo na brincadeira, principalmente com crianças, são as maiores qualidades dos Pitbull . Além disso, são cães com uma personalidade muito forte, determinadíssimos, resistentes e fortes.
"Os Mastin Napolitanos são mais fortes que os Pitbull, mas se por acaso um se confrontasse com um Pitbull, ao fim de meia hora o Mastin já deveria estar cansado e o Pitbull não”, faz, Aguiar, um paralelo.
Outra qualidade é que não estão sempre a atacar outros cães salinta Honório Aguiar: “o Pitbull que eu tinha, se visse cães pequenos, tipo Caniches ou Cockers, não atacava, pois não existia desafio para ele. Já se passasse por um cão maior, como um Rottweiller, aí sim, queria ir à luta”.

Proprietário e cão obrigados a sair de exposição canina
Para além das qualidades referidas, como a força, a personalidade, a resistência, a docilidade, a “beleza” da raça parece contar também muito na opção pelo Pitbull. Mesmo assim, apesar de aos proprietários serem mesmo pedidas fotografias, ainda acontecem situações “humilhantes”, como a que ocorreu com Bruno Moniz que, na exposição canina de Vila Franca, foi obrigado a abandonar o recinto com o seu cão. Moniz relata na primeira pessoa a situação por que passou, poucos dias depois de ter concedido o seu depoimento.
Antes porém destes acontecimentos, e que só serviram para reforçar a “admiração” que têm pelos Pitbull, Honório Aguiar, peremptório, declarava: “é a raça mais bonita! Além disso, é um cão muito bem disposto, activo e meigo. É um excelente atleta. Também não se magoa facilmente, o que é excelente, principalmente para estar com crianças, que são mais propensas a puxar pelos animais e apertá-los inconscientemente”.

Pitbull age à imagem do dono
Aliás, é costume dizer-se que um cão age à imagem do seu dono e nesta raça isso fará muito sentido.
No entanto, a imagem depreciativa do Pitbull deverá continuar, até haver uma legislação específica que leve a que as pessoas se consciencializem e percebam que cães desta raça merecem atenção redobrada e uma educação cuidada.
“Sinceramente, quando vejo notícias dessas sobre Pitbulls irrita-me, porque na maior parte das vezes não se pretende chegar à verdade, mas somente denegrir a raça. Quando eu era pequeno era o Doberman, agora é o Pitbull…encontram sempre maneira de fazer notícia às custas de uma raça”, lamenta Honório Aguiar.

Não são cães de guarda
Bruno Moniz concorda na totalidade com esta afirmação e ainda esclarece: "o Pitbull nem é um bom cão de guarda, não foi criado para esse fim e no seu temperamento não está o atacar pessoas. Há outras raças para esse fim, não esta certamente.".
Honório Aguiar deixa um alerta para as pessoas que querem adquirir um Pitbull. Que começa por “estudar bem a raça” e “tentar perceber se é mesmo esta a raça que pretendem...Este não é um cão para todas as pessoas. Se se decidirem por ele, certifiquem-se que é mesmo um Pitbull, raça pura, se possível, com registo na American Dog Breeters Association”. Além disso, “ as pessoas que têm estes cães, devem dar garantias a quem os procura... Só deste modo os donos vão tirar mais partido do cão e o próprio cão dos donos. Com o Pitbull, como atleta que é, dá para fazer uma série de provas giras, como salto em altura, resistência… é um cão dado à brincadeira e uma excelente companhia que nunca se cansa!”

Situação humilhante na exposição canina de vila franca
“Depois da entrevista ao Jornal dos Açores, decidi prestar uma declaração adicional de modo a sublinhar a minha profunda revolta face às inúmeras injúrias de que é constantemente alvo este inverosímil companheiro e amigo de quatro patas, conferida por um imagem denegrida, hiperbolizada e mesmo manipulada por pessoas e entidades que nada ou pouco conhecem desta raça supra. Os Pitbulls são constantemente excluídos e menosprezados, sendo estes adjectivos perfeitos para descrever o sentimento cruel e indigno que a raça sofre e, por conseguinte, os seus donos e criadores que são subjugados a todo o tipo de notícias alusivas à violência e restrições com o intuito de incriminar a raça. Tal como o Doberman que, no passado, foi também rotulado como "cão assassino", ao que parece este testemunho foi passado ao Pitbull para, desta forma, poderem continuar a saga dos cães "perigosos" e manter o "share" das audiências no topo.
Mas perigosos para quem?! O padrão da raça, para quem os conhece verdadeiramente, está definido como um cão extremamente dócil para as pessoas, especialmente para as crianças, chegando mesmo a ser a raça de eleição para terapias com pessoas portadoras de deficiência, para acções de foro policial (por ser hábil e com grande capacidade atlética) e também pelas centenas de feitos heróicos e históricos que a raça continua a promover, mas que são ocultados, por estes não terem valor noticioso positivo para as vendas.
O que é certo é que o Pitbull é pouco tolerante com outras raças, o que não significa que se for devidamente socializado não possa vir a criar um relacionamento amigável, até mesmo paternal, vivendo em harmonia.
Fui vítima de um situação embaraçosa e humilhante aquando da ida com a minha respeitosa mãe, irmã e camarada canino, a título de curiosidade, a uma exposição canina em Vila Franca. Como sei que o Pitbull não é um cão reconhecido pelas federações fui como espectador e apreciador de outras raças. Passados cerca de 20 minutos, fui convidado a sair do recinto por ter um Pitbull a assistir à exposição... Isto quando o meu cão, juntamente com os Fox Terrier, foi o único que nem abriu a boca para soltar um latido ou apresentar qualquer comportamento de hostilidade , para além de que, à entrada, e para minha grande surpresa, foi dos cães mais elogiados pela sua beleza, tendo-me sido inclusive solicitadas várias fotos.
É importante salientar que este abrupto convite de retirada foi incitado pelo próprio organizador da exposição, que fez questão de interromper o evento para me dar um repreensível "cartão vermelho" e com uma atitude de que eu tinha o maior e mais temível cão do mundo, quando havia exemplares da família dos Pitbulls no recinto.
Poderá ser, ou talvez não, que de uma próxima ocasião este senhor esteja um pouco mais elucidado sobre a raça e não cometa mais actos discriminatórios, porque este é que é o verdadeiro crime. Como ditou o famoso e falecido Gandhi: "O progresso moral de uma nação pode ser julgado pela forma como tratam os seus animais". Aí está o modo como tem sido passada a imagem do Pitbull - um cão extremamente perigoso. Todos nós sabemos que qualquer cão, devidamente estimulado para acções de guarda ou ataque, mesmo o pequeno Chihuahua, pode atacar, porque é incentivado para tal. ... será que esta raça terá de ser sempre marginalizada por pessoas irresponsáveis que no passado utilizavam as suas capacidades de "Game" para o ringue? Não! Paremos de infantilidades e de notícias com destaque a ataques (...) Espero sinceramente que este complemento a esta reportagem e desabafo pessoal sirva para provar o verdadeiro coração do Pitbull e mostrar o lado que nunca foi exibido”.

in "Jornal dos Açores", 20 de Julho de 2006

5 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que certas pessoas tem consciência que todos os cães são o reflexo da mão que os educa. Tenho maior pavor dos meus pares. Nunca nenhum cão me atacou sem me olhar nos olhos.

Anónimo disse...

Obrigada por publicar uma reportagem tão sensata.
Pois me deparo todos os dias com pessoas q criam o pit sem o minimo de respeito pelo cão.
espero q umas dessas pessoas leam isso...Meus sinceros comprimentos.
Gislaine Honorato Barros.

Anónimo disse...

ola a todos que adoram pitbulls o pit sera a sua personalidade cuidado

Anónimo disse...

q bom ver um comentario tão sensato sobre o pit bull, pois conheço tantas pessoas q tem o cao e sao tao doçeis...
o cao e a cara do dono.

Unknown disse...

Parabéns pela reportagem !
Saudades do Thor, adotei-o adulto, sem ter muito conhecimento da raça, mas ele estava abandonado e precisava de um lar. E ele se mostrou o amigo mais companheiro e carinhoso que eu poderia esperar !